Na sequência da publicação de artigo de Serge Latouche e da subsequente réplica pessoal de Hans Eickhoff e dado não existir de momento outro espaço aberto para debate interno de ideias na Rede, fica este breve comentário, que acresce à reflexão de Jorge Farelo.
Considero que o decrescimento contempla uma visão plural e crítica sobre vários aspectos da sociedade, incluindo a sua dimensão cultural e ética. Considero também que a interpretação do Hans de que o texto de Serge Latouche está "virado para dentro" e para "mudanças a nível individual" é questionável e parece-me mesmo precipitada. O texto invoca várias vezes a mudança societal, mas interliga-a com outras dimensões igualmente pertinentes. É esta a leitura que faço deste e de outros textos de Latouche (e mesmo de outros decrescentistas ou de percursores do decrescimento), segundo os quais o decrescimento é um convite a reavaliar e reconceptualizar (i.e. desconstruir) o modelo socioeconómico dominante, também ao nível da visão de mundo que lhe subjaz, assim como dos valores e da ética que implica. Sem mudanças de visão de mundo e de valores, compreendidas e consensualizadas democraticamente, não haverá, quanto a mim, uma mudança de rumo. Considero pois que aquele texto continua a ser pertinente e inspirador no momento presente (daí ter sugerido a sua publicação), pois caracteriza adequadamente a visão multidimensional do decrescimento. Destaco um excerto desse texto que considero relevante para a minha argumentação: "Uma política que fosse apenas uma ética seria impotente ou terrorista, mas uma política sem ética (como a que vivemos principalmente a partir da reviravolta dos anos 90, do grande salto para trás neoliberal) vê o triunfo da banalidade do mal."