INTRODUÇÃO
A publicação do artigo do Serge Latouche no site - Como se faz uma revolução cultural? - tem como objectivo desencadear um debate interno para consolidar e aprofundar as opiniões individuais sobre o que se entende por Decrescimento.
Este meu contributo inspira-se nas inúmeras “vias” lançadas ao longo do texto, para encarar as lutas, as buscas, as conquistas de autonomia, de refrescados conceitos não afónicos, com vista à “reconquista da realidade e da terra”, de criar “uma arte de viver bem”, em “ascese”, em “crítica livre”.
CONTEXTO
Quando troco impressões com as mais diversas pessoas sobre o Decrescimento, a minha fala nunca é mesma, depende de com quem estou em interação, e portanto as conversas são aferidas aos momentos. Claro que mesmo com amplas perspectivas e diversas definições do que se entende por decrescimento, existe uma base comum presente no Manifesto da RD.
Não posso deixar de recorrer a Edgar Morin, que na sua concepção trinitária do humano, considera que o indivíduo, a espécie e a sociedade são indissociáveis e constituem-se mutuamente: o indivíduo está dentro da sociedade, porém através da linguagem e da cultura a sociedade está dentro do indivíduo; o indivíduo está dentro da espécie, contudo a espécie através do ADN está dentro do indivíduo.
Consequentemente há que assumir um pensamento complexo, ir além das concepções cartesianas que compartimentam disciplinarmente as ciências, para um conhecimento transdisciplinar que as relaciona, passar de comportamentos binários, sujeito/objecto, certo/errado, para abordagens em que os antagonismos podem ser complementares e todas as coisas causadas e causantes. As partes compõem o todo, assim como o todo está nas partes.
Impõe-se uma ética planetária que procure respostas para a crise civilizacional das comunidades contemporâneas, hoje ameaçadas pela globalização desregulada, a desmedida dimensão das finanças na economia, a vigilância digital das sociedades, a regressão política em que proliferam populistas e regimes neoautoritários, e claro, pela perda da biodiversidade, da degradação da biosfera e da multidimensional crise climática. Enfim, entender o mundo dos elementos, tudo quanto existe no cosmos.
CAMINHOS
As realidades porque são dialéticas e muitas vezes de difícil apreensão, têm de se implicar e comprometer em modos alargados e abrangentes.
Temos a consciência de que não pode haver uma verdadeira transformação social, política, económica e cultural sem uma transformação interior? Ou vice-versa?
Os momentos de reflexão conjunta dos activistas que integraram a RD colocam desde logo pertinentes questões metodológicas.
Abertura e encorajamento a outros “disponíveis”? Que sensibilidades integrar? Quem inicia e trabalha? Com que objectivos? Que alvos tem em mira? Que prioridades?
Apesar de tudo estabelecem-se dinâmicas descontínuas, umas mais sólidas do que outras, com o propósito de clarificar atitudes e âmbitos de actuação.