O caracol convida-nos a abrandar. E também sublinha o que o modelo do crescimento esqueceu ou nega, um sentido dos limites: “O caracol constrói a arquitetura delicada da sua concha adicionando espirais cada vez maiores, uma após a outra, mas então pára abruptamente e regride na direção oposta. Na verdade, apenas uma volta adicional da espiral tornaria a concha dezasseis vezes maior. Em vez de ser benéfico, [esse crescimento] sobrecarregaria o caracol. Qualquer aumento na produtividade do caracol teria de ser usado para compensar as dificuldades criadas pelo crescimento da concha além dos seus limites pré-determinados. Uma vez que o limite para aumentar o tamanho da espiral foi alcançado, os problemas do crescimento excessivo multiplicam-se exponencialmente, enquanto a capacidade biológica do caracol, no melhor dos casos, só pode conferir crescimento linear e aumentar aritmeticamente” (Illich 2005)*. O decrescimento é um convite à reflexão sobre a ‘sabedoria do caracol’, um convite a questionar os limites físicos do crescimento da sociedade - mais não significa necessariamente melhor. Às vezes, pode até ser ‘pior’, ‘destrutivo’ ou ‘devastador’. O único crescimento desejável e sustentável é o decrescimento.
Tradução de excerto de ‘Convivial Degrowth or Barbarity?’, Vincent Liegey (Fev 2021)
* Ivan Illich, 2005. ‘Le Genre vernaculaire’, in Oeuvres complètes, vol. 2. Fayard, Paris.