O território especial da Quinta do Braamcamp
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O território especial da Quinta do Braamcamp

O território especial da Quinta do Braamcamp

O 8º Encontro presencial de 2023 do Núcleo de Lisboa, a 16 de Setembro, foi organizado em articulação com a Mula, cooperativa em torno da cultura, apoio comunitário e sustentabilidade, activa no Barreiro desde 2016. O evento decorreu durante todo o dia, tendo nós sido muito bem recebidos pelo André Carapinha que nos guiou pelo território. Foi possível conversar com potenciais interessados pelo tema do Decrescimento; cerca de 36 manifestaram previamente interesse, aparecendo um pouco menos no dia.

Do programa, importa destacar uma caminhada ao longo da margem sul do estuário do Tejo, durante a manhjã, com início no Terminal Rodo-Ferro-Fluvial do Barreiro, onde chegámos e fomos acolhidos. Atravessámos a antiga  estação da CP desativada e sem qualquer obra de conservação, passámos por engenhos moageiros hidráulicos de maré e eólicos, alguns recuperados, outros muito degradados, com destino à Quinta do Braamcamp.

Neste local, onde se criaram bichos da seda e tiveram lugar outras actividades complementares significativas, com grande diversidade de fauna e flora, existem casas solarengas, habitações, armazéns, antiga fábrica da Sociedade Nacional de Cortiça, tudo desmoronado, e o moinho de maré do Braamcamp, o maior desta península, com 10 moendas (pares de mós), edificado ao século XVIII, mas bastante arruinado.

Nos idos tempos, os moleiros eram obrigados a conservar muros e muralhas, e não podiam ter porco ou qualquer outro animal na vizinhança do moinho, nem podiam na preza reter as águas mais de três dias, tudo enquadrado por normas de higienização rigorosas.

Hoje é um território expectante, disponível, todo de nível, óptima localização, amplas vistas sobre  Lisboa e todo o Tejo, constitui mesmo um lugar para aplicar as políticas cujos objectivos são a criação de fontes de receitas ou mecanismos de ajustamento das finanças locais.

A Plataforma Cidadã Braamcamp desencadeou uma providência cautelar em 2020, bem sucedida, pelo que ainda não teve lugar a venda da Quinta com 21 hectares. Segundo a autarquia não pode ser requalificada por falta de verbas, mas que, se o projecto for respeitado, criaria 95% de áreas desportivas e espaços verdes, apenas 5% seriam destinados à construção de habitação.

Caso não inédito de como se vai invadindo o território natural, não sendo equacionadas alternativas pautadas por outros valores, por exemplo, através da recuperação dos ilimitados moinhos de maré, cujas caldeiras, que têm vindo a ser parcialmente aterradas, poderiam funcionar como reservatórios de água que enchem com os desníveis das marés, produzindo energia limpa.

A foto aérea permite perceber de forma clara como estes ecossistemas são vulneráveis.

No Barreiro, cidade com decréscimo populacional, em que na última década houve um forte incremento ao acesso à habitação própria, deveria ser bem ponderada a construção de novos fogos, definindo que tipo de casas de rendas acessíveis seriam edificadas, e sobretudo em zonas de requalificação, sedimentando o tecido urbano do Barreiro, e não num território que se presta à intensa especulação imobiliária.

Numa perspetiva decrescentista, toda a zona da Quinta e suas envolventes, deveria ser a base de um projeto de iniciativa camarária, com outras instituições e participações, suportado por soluções inovadoras de produção de energia a partir dos moinhos de maré, devidamente financiados por fundos públicos apropriados.

Um dos resultados obtidos, seria seguramente mais espaço verde, diversificado e inclusivo, a ser usufruído não só pela população local, mas também como sítio onde apetece ir para desfrutar da natureza, assegurando igualmente novas vidas culturais, tais como as promovidas pelos diversos Arquivos existentes, que embora muito diferentes entre si, cooperam na organização de forte múltiplos relacionados com o Património Industrial, voltados para dentro e fora da cidade.

O futuro dirá que sementes irão frutificar.

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