O Caracol | Outono 2023
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O Caracol | Outono 2023

O Caracol | Outono 2023

Destaques

Nesta edição outonal do Caracol o destaque vai para o Encontro Nacional da Rede para o Decrescimento, que decorreu  entre os dias 13 e 15 de Outubro e reuniu em Mértola 40 pessoas, entre membros e não-membros da Rede. O momento foi de convívio, partilha e muita reflexão coletiva, lançando a ponte para novos desafios, ações e parcerias. A equipa do Círculo que organizou o Encontro (Carlos Soares, Pascale Millecamps e Paulo Mendonça) e, em particular, o Pedro Nogueira (anfitrião e organizador local), estão de parabéns!

Mas este Caracol não vos falará só neste Encontro, até porque desde a última edição de Verão, muitos foram os eventos, quer organizados pela Rede, como o 8º Encontro presencial de 2023 do NL-Lisboa, no Barreiro, ou que contaram com a participação de membros da Rede, tais como o Acampamento em Defesa do Barroso, a  9ª Conferência Internacional de Decrescimento, em Zagreb, ou o Lançamento da revista digital Outras Economias, entre outros.

Já no próximo sábado, dia 18 de novembro,  irá realizar-se o 9º Encontro presencial de 2023 do NL-Lisboa, num evento co-organizado com a Bicicultura, no Centro de Inovação Social, nos Olivais, Lisboa.

Continuem a explorar este Caracol e fiquem a conhecer mais detalhes destas e outras iniciativas. Há ainda várias sugestões de leituras de artigos de membros da Rede e não só.

Entretanto, visitem o nosso site, escrevam-nos (geral@decrescimento.pt); divulguem, apoiem e participem!

Atividades da Rede ou com a participação dos seus membros

Nacionais

Acampamento em Defesa do Barroso, 10-15 de Agosto

O Decrescimento esteve presente e vocal na ACAMPADA 2023 contra a mineração industrial em Portugal, em Covas do Barroso. Neste acampamento, onde originalmente se combateu a instalação da maior mina a céu aberto de lítio da Europa, num território protegido pelas Nações Unidas devido à sua sustentabilidade ancestral, tem-se vindo a assumir como ponto de encontro de ativistas por uma ecologia profunda, radical, e transformadora.

Assim, o decrescimento surge como uma reflexão essencial, primeira na agenda, de modo a re-enquadrar o problema em mãos, abrir vias de ação e narrativa, aprofundando a reflexão coletiva e lançando o mote para o resto do evento, que incluiu workshops de ação direta, encontro e construção de redes, concertos, festa do emigrante, jogos tradicionais, passeios pelo rio e pelos baldios, e outras atividades que procuraram promover encontros entre ativistas e entre est@s e a Natureza que defendem.

O workshop (que a Rede para o Decrescimento em Portugal oferece a organizações e coletivos que procurem aprofundar a reflexão e conhecimento sobre o problema ecológico como um todo) convida a olhar o crescimento económico exponencial, a linearidade da economia e o extrativismo que ela implica como principais motores da crise que hoje vivemos. Afastando-se das emissões de GEE como único problema a resolver, o workshop explora as possibilidades e impossibilidades da transição social, os desafios da redução material e energética das nossas economias, e os passos que podemos e devemos dar em direção a um futuro mais sustentável, mais sóbrio, e mais justo.

Há pouco tempo para o tanto que há a fazer. O workshop, como a Rede para o Decrescimento em Portugal, convidam a sociedade a refletir corajosamente, e a ativar-se, urgentemente, em torno de estratégias e experimentações capazes de construir as redes, proximidade e resiliência que serão pedras de toque essenciais para fazer, coletivamente, face a um futuro confuso e desafiante.

Mais bairro em Campo de Ourique | Ensaio de superquarteirão, 9-17 de Setembro

No seguimento do 6º Encontro presencial do Núcleo local de Lisboa, a cujo tema foi a apresentação do projecto de um super quarteirão envolvendo o Jardim da Parada, ocorreram ensaios da sua implementação promovidos pela Junta de Freguesia de Campo de Ourique, com o apoio da CML, nos dias 25 de Junho, 23 de Julho e na semana de 9 a 17 de Setembro. Nessas datas, os carros não puderam estacionar naquele perímetro. As experiências tiveram resultados muito positivos de adesão.
Um grupo de cidadãos promoveu a elaboração de um folheto onde é explicado o conceito de super bairro, o qual tem vindo a ser distribuído e será divulgado em futuras sessões públicas. Também foi realizado um inquérito junto de  fregueses do bairro e fora dele. Para quem tiver interesse neste tema, sugerimos este artigo.

8º Encontro presencial de 2023 do NL-Lisboa, Cooperativa Mula (Barreiro), 16 de Setembro

O encontro decorreu na cidade do Barreiro, acolhido pela cooperativa Mula. À caminhada da manhã, que serviu para discorrer sobre as problemáticas de como se deveria intervir em partes muito sensíveis do território (designadamente na Quinta do Braamcamp), seguiu-se um almoço na sede da Mula, com excelente ementa “ecológica”, apelidada de Broa sem bacalhau. Seguidamente, os membros do NL fizeram a sua habitual reunião, abordando pontos de gestão interna, calendários e ações futuras.
Em seguida, Hans Eickhoff  fez uma apresentação tendo como base um roteiro de questões, o que permitiu uma conversa aberta com alguns interessados em conhecer melhor a Rede e “O que é o Decrescimento?”. Mais detalhes neste artigo publicado no site da Rede.

Lançamento do 1º número da revista digital “Outras Economias” (Lisboa), 28 de Setembro
A Rede (representada pelo Álvaro Fonseca e pela Graça Rojão) foi convidada pelo CIDAC para participar na equipa redatorial do número inaugural da revista digital Outras Economias, que teve como título “EconomiaS no Plural”. Para além de sugestões sobre estrutura, conteúdos e colaborações para este nº1, o nosso contributo incluiu ainda a redação de artigos: três integrados na secção “Abordagens críticas”, sobre Comuns, Decrescimento e Ecofeminismo, e um outro sobre Utopias realistas. Contribuímos ainda na redação do editorial deste número. O resultado desse trabalho colaborativo, em que participou também uma representante do Graal/Banco do Tempo, foi apresentado no dia 28 de Setembro, num evento de lançamento que decorreu no pátio interior da Galeria Monumental e foi seguido por uma assistência de cerca de cinco dezenas de pessoas. O momento central do lançamento foi uma roda de conversa, moderada pelo Stéphane Laurent (CIDAC) e onde participaram o Álvaro Fonseca (Rede para o Decrescimento), a Cecília Fonseca (CIDAC), a Eliana Madeira (Graal/Banco do Tempo) e a Sandra Faustino (Jornal Mapa). O mote para as intervenções foi a pergunta: “Como falar e/ou fazer alternativas em contexto hegemónico?”. Na abertura e fecho da conversa foram lidos poemas pela atriz Elsa Maurício Childs. O momento de conversa foi antecedido por um lanche com produtos da Loja de Comércio Justo do CIDAC.

É possível visitar o site da revista Outras Economias e navegar pelos conteúdos do nº1. Nele podem encontrar, para além dos artigos escritos por membros da equipa editorial, uma entrevista a Rogério Roque Amaro sobre o livro “A Grande Transformação” de Karl Polanyi, seis depoimentos vídeo a partir da pergunta “O que me preocupa no sistema económico atual e o que mudaria?”, e as apresentações de oito projectos/colectivos que promovem alternativas económicas em Portugal, onde se inclui a Rede.

Artigos/Posts externos sobre a revista e/ou o lançamento: Sete Margens, Esquerda e Graal.

Participação no evento Jornada da Água e da Cultura Oceânica (Sacavém), 30 de Setembro
No passado dia 30 de Setembro a Rede participou no simpósio “Tibau no Mar de Vigo” no âmbito da Jornada da Água e da Cultura Oceânica durante o Festival d’ A Barca – Maré Cultural no Trancão e Tejo, uma organização Artelier-Teatro Nacional de Rua.

Ouçam a intervenção do Carlos Soares, que abriu a 2ª parte do simpósio, no vídeo (6) Facebook (minuto 1h59:05 a 2h10:05).

E saibam mais sobre esta segunda edição do festival em: A Barca Criativa – artelier? Teatro de Rua (artelier-teatroderua.com); que aconteceu no Cais de Sacavém, à beira do Trancão, num espirito de alegria contagiante – sempre pontuada quer pelo Nuno Paulino, diretor do festival, quer pelo galego Xurxo Souto, um verdadeiro ativista cultural – e de muitas aprendizagens, com gente conhecedora das realidades dos rios Trancão e Tejo, tal como da costa galega e seus desafios ambientais e sócio-económicos, nomeadamente com a excelente intervenção de Javier Costa – Patron Mayor de Cangas.

Encontro Nacional da Rede, Mértola: 13, 14 e 15 de Outubro

Entre 13 e 15 de Outubro, Mértola acolheu o 4° Encontro Nacional da Rede para o Decrescimento. O desafio deste ano foi grande. Um modo relativamente novo de co-organização, num território bem específico e distante dos grandes centros urbanos (com transportes públicos muito deficitários); de múltipla centralidade (os momentos de trabalho, vagar e degustação aconteceram em diversos locais da vila/concelho); e com um número de participantes (50% era gente nova na Rede) que atingiu o máximo definido pelo Círculo organizador, para que o bem-acolher e a boa-fluidez do programa fossem conseguidos.

Havia que privilegiar um aprofundamento do trabalho desenvolvido pela Associação Terra Sintrópica e projetos associados naquele território, tais como o PREC (Processo Regenerativo Em Curso), a Cozinha da Avó em Santana de Cambas e o Centro de Agroecologia, entre outros. Os cerca de 40 participantes sentiram as preocupações e os desafios que aquele território semiárido e as suas gentes estão a viver e a experimentar. Ouviram e saborearam palavras desafiadoras e manjares tradicionais e num tempo em que ações coletivas que deem verdadeira resposta a desafios bem locais são cada vez mais necessárias.

Um ambiente de sã partilha, de questionamento profundo, de imaginação e esperança de que outro mundo é possível, foi tomando conta da energia do grupo. De facto, os participantes, com ou sem ligação prévia à Rede, foram convidados em diversos momentos (acolhimento, apresentação da Rede, mesas de debates, reunião geral e balanço) a se exprimirem, através de dinâmicas que favoreceram um clima de confiança para uma troca de saberes significativa.

Assim, o balanço pessoal efetuado no domingo de manhã revelou um elevado grau de satisfação. E quisemos saber das aprendizagens individuais... salientamos alguns dos temas referidos: Sintropia e Território; Comunicação: diálogo, escuta, diferentes ritmos; Decrescimento; Colaboração e criação/ação coletiva.

E ainda uma frase que resume bem o sentimento generalizado "confiança renovada na diversidade e sabedoria do coletivo". E quisemos saber quanto ao futuro em relação à Rede:

- Quem já é parte da Rede, sente uma vontade renovada de continuar a participar ativamente.

- Quem esteve pela primeira vez, expressou vontade em conhecer melhor a Rede e o seu funcionamento, mas também em começar já a colaborar, a abraçar projetos em curso ou a propor trabalho conjunto; embora também fosse referida a necessidade de "digerir" tudo muito bem, tal foi a intensidade deste Encontro.

A Rede para o Decrescimento sai bastante satisfeita deste Encontro Nacional em Mértola. Que venha o próximo, em 2024, igualmente com vagar e intensa convivialidade!

Internacionais

- 9th International Degrowth Conference, Zagreb: 29 de Agosto a 2 de Setembro

A propósito deste evento, o Hans Eickhoff publicou este artigo.

Novos Círculos na Rede

C Beyond Growth na Assembleia da República

Este Círculo foi criado com o objetivo de promover um debate sobre Decrescimento na Assembleia da República, com o apoio de diferentes partidos políticos. O Círculo já teve uma primeira reunião e está a desenvolver trabalho através da plataforma Element.

Petições ou Manifestos subscritos pela Rede

- Carta aberta ao PR da Associação Último Recurso

- Carta aberta da Stay Grounded sobre Jatos Privados

- Manifesto for an intergenerationally just post-growth European economy

- Adesão ao International Degrowth Network

- Adesão à Stay Grounded

Publicações recentes no site da Rede ou noutros media

Foram publicados no nosso site os seguintes artigos, escritos por membros da Rede. Há muito para ver, ler e refletir:

Artigo de Hans Eickhoff sobre a conferência internacional de decrescimento em Zagreb: Planeta, Gente, Cuidado: Isto significa Decrescimento!

Versão ampliada de artigo de H. Eickhoff publicado na edição portuguesa do Le Monde Diplomatique: O Decrescimento em Portugal: A Necessidade de Demolir um Paradigma

Artigo de Jorge Farelo sobre o território do Barreiro, a propósito do encontro do Núcleo de Lisboa de Setembro: O território especial da Quinta do Braamcamp

Foram também publicados os seguintes artigos por autores exteriores à Rede:

Tradução de artigo do decrescentista mexicano Miguel Valencia sobre o legado de Ivan Illich: A marca deixada por Ivan Illich no decrescimento

Noutros media, podemos ainda encontrar os seguintes contributos de membros da Rede:

Artigo de Graça Rojão que resume o seu trabalho de doutoramento sobre Decrescimento e Cuidado nas Práticas das Iniciativas Locais.

Artigos de Álvaro Fonseca e Graça Rojão para o número inaugural da revista digital Outras Economias: Comuns  Decrescimento  Feminismo e Ecofeminismo Crítico  Outras Economias: de que se trata afinal?

Artigo de Alcides Barbosa no âmbito da manifestação sobre a crise da habitação, no jornal Guimarães Agora: Casas para Viver, Planeta para Habitar

Participação do Hans Eickhoff no programa Biosfera, da RTP: Uma Nova Economia para o Século XXI

Eventos futuros, internos ou exteriores à Rede

Nacionais

9º Encontro presencial de 2023 do NL-Lisboa, 18 Nov, 11-17h30, Olivais - Lisboa

Com o tema Decrescimento, Espaço Público e Mobilidade Urbana, este será um evento co-organizado com a Bicicultura. Mais informações sobre o encontro e o seu programa, disponíveis aqui.

Publicações de interesse para a comunidade decrescentista

> 100 Years of science warnings ignored, Shani Cairns (Scientists’ Warning Foundation Science Communicator): Neste artigo, a comunicadora de ciência da ‘Scientists’ Warning Foundation’ faz uma reflexão exaustiva sobre as possíveis razões pelas quais os decisores políticos mundiais não agem em consonância com os sucessivos avisos dos cientistas sobre o perigo existencial que constitui a catástrofe climática e ambiental em curso, propondo também algumas estratégias para ultrapassar o actual bloqueio. A primeira razão invocada prende-se com os interesses económicos e a autora escreve: “(…) To mitigate the worst impacts of climate change as well as prevent collapse and mass extinction, it will be necessary for individuals, governments, and organizations to take immediate and drastic action to reduce greenhouse gas emissions, transition to clean and renewable energy, and develop better systems and governing frameworks. This will include working toward transitioning to an ecological civilization and an ecological economy based not on growth, but rather degrowth — a concept which is still foreign to most people. This is because it is pretty much the opposite of everything we have been doing so far as the ‘victims of progress’ (...). We have been serving an endless growth paradigm that is informed by extractivist colonializing forces that have never fully ended even in the modern era.

> A tradução portuguesa do clássico da economia política “Small is beautiful” de E.F. Schumacher foi publicada em Setembro pela Editora Actual, com o título: A beleza de ser pequeno - um estudo de economia política como se as pessoas tivessem importância.

> Textos de opinião, provocadores e contra-intuitivos, sobre a nossa resposta à crise climática do escritor do Sri Lanka (nascido no Canadá) Indrajit Samarajiva:

https://indi.ca/why-we-need-to-stop-fighting-climate-change/

Like all fights against nouns (drugs, terror), the fight against climate change is a category error. Climate change is a natural reaction to artificial growth. Centuries ago, colonizers incarnated human greed as corporations, and these now ruling AI have done what they’re programmed to do, grow at any cost. ‘We’ are not even the relevant species to climate change, and now is not the time to do anything about it.

https://indi.ca/what-winning-against-climate-change-actually-looks-like/

I cover the ‘winning’ scenarios [of the LTG report] here not because they’re possible but because they’re not. Understanding what winning actually looks like can help us understand the losing state we’re in. Even in our wildest hypothetical imaginings (if I ruled the world and everyone thought the right things) we do not imagine what’s actually required. Because it’s absolutely brutal. Someone/something would have to take global power, kill the rich, crush the corporations, and rule humanity with an iron fist to wrench our ambitions down to Earth. This is what ‘winning’ looks like. You don’t want it and even if you did, it’s already been sold out.

https://indi.ca/what-losing-to-climate-change-looks-like/

“(…) we have lost the ‘fight against climate change’ before we started, simply from the way we look at the problem. ‘We’ are not the relevant species and ‘fighting’ is not the right metaphor. All of our ideas of ‘victory’ hinge on further domination of nature which is why we’re ‘losing’ in the first place. Just ask the old gods or the new. Actual winning would require a level of sacrifice we consider disastrous in and of itself. We are a bunch of hairless apes, ruled by corporations, picking a fight with the fucking weather. This is as stupid as it sounds.

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